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A minha melhor amiga

Ela é das mulheres mais fortes que conheço. Das mulheres que mais admiro. Conheço-a praticamente desde sempre. Tivemos percalços espaciais, mas hoje temos o que poucos têm. Não é só amizade! Amigos, embora haja poucos, há bastantes. Mas a nossa relação é como poucas. Somos como irmãs. Compreendemo-nos só com um olhar, há discrepância nos nossos gostos, mas partilhamos da mesma opinião na maioria das situações reais. Estamos ao lado uma da outra mesmo quando todos estão contra. Já me provou que não me aponta o dedo mesmo que mereça e todos o façam. Claro que há momentos para tudo e há, sem dúvida, momentos em que me chama à atenção e até ralha comigo (é recíproco). Mas quando chega a altura de "comigo ou contra mim", sei que ela não hesita, mesmo que lhe vá cair o mundo em cima (também é recíproco). Podemos até concordar nas falhas uma da outra em conversas paralelas sem a presença mútua, mas quando a conversa chega ao ponto de realmente "se dizer mal", aí não se metam com o que é meu. Vou defendê-la com unhas e dentes, vou soltar as minhas garras e agarrar-me a tudo o que tenho. Sei que é recíproco. Nada me faz mais triste do que ver as pessoas que mais gosto a sofrer. E das coisas que mais me custa é vê-la lutar com o Crohn. Vê-la a ter crises, a ir-se abaixo. Choro como se fosse a minha mãe a sofrer. Choro baba e ranho por saber que a força dela não é infinita. Nunca lhe disse. Vezes sem conta que ela vai ao médico ver se há novidades. Esse dia, para mim, nunca mais acaba até receber uma mensagem dela. Às vezes até me esconde as coisas piores para não me preocupar, embora saiba que eu não concordo com isso. Ao longo dos anos tinha corrido tudo relativamente bem. Até há pouco tempo. Ela chegou ao pé de mim e disse "Verónica, disseram que os medicamentos têm sido em vão. Já não fazem efeito." Caiu-me tudo. Não sou mãe dela, nem pai nem irmã. Mas tenho a certeza que me custou quase igual. Falou-me dos tratamentos, do que podia correr mal, das decisões que tinha que tomar. Por momentos, chorei o Pacífico com medo de a perder. Já não sabia o que fazer. Só lhe podia dizer que ia correr tudo bem e eu a ia apoiar em qualquer decisão. Tive tanto medo. Não fui a única, mais pessoas vieram ter comigo sobre isto. Depois pensei "Ela é forte". Sei que nunca vou compreender a dor dela, mas ela sabe que estou com ela incondicionalmente, sempre. E foi. E melhorou. E está melhor. O medo não se vai embora, mas ela agora está bem. Está feliz. Então eu também.
Ela é linda. Ela é simpática. Ela é maravilhosa. Ela é das mulheres mais fortes que conheço. Das mulheres que mais admiro.
Ela é a minha melhor amiga.