Não deixes esta noite acabar. Por favor, peço-te por favor que não
deixes. Não consigo deixar de pensar que até as estrelas se alinharam quando me
olhaste pela primeira vez. Esses teus olhos, esse teu sorriso, esse teu toque.
O arrepio que me provocaste com o olá como há muito nada me provocava. Vi-te
pela primeira vez e a estranheza de ter ficado curiosamente surpreendida
deixou-me ainda mais tímida do que já sou. A Lua seguiu-te pela marina e eu fui
atrás. Como poderia não ir? O teu sorriso atraíu-me como um íman. Quem serias
tu, aquele ser ali ao início da noite, sozinho junto ao rio? Será solitário e
gosta de estar sozinho a ouvir os próprios pensamentos? Ou será aventureiro e gosta de
descobrir sozinho novas vozes, novos olhares, novos anoitecer? Intrigaste-me irrevogavelmente
e não te consegui ignorar. Tive de te conhecer. É tão bom quando algo supera as
tuas expectativas, parece que a adrenalina percorre o corpo inteiro a pedir
mais, só mais um bocadinho. Foi exactamente o que me aconteceu. Quando mais me
contavas sobre ti, mais eu queria saber. Quanto mais sorrias, mais eu te queria
ver sorrir. Quanto mais me olhavas, mais eu te queria olhar. Quanto mais me
davas de ti, mais eu te queria. Já te disse que foste como um íman? Percebe que
não tive qualquer tipo de controlo, tu eras tudo o que eu precisava ali comigo,
naquela noite de primavera. Convidaste-me para jantar. Como podia eu dizer que
não? Eras a companhia que precisava há muito tempo, a noite de gargalhadas que
neguei precisar durante meses. Até que, enquanto escolhíamos a entrada italiana para partilharmos, saíu-te um “o que é que pode falhar com
queijo?”. Aí... Aí eu soube. Só podias ter saído dos meus sonhos. E, de facto,
não passou disso. De um sonho.