Pages - Menu

Odor a Hugo Boss


Ainda tenho o teu cheiro no meu casaco. Não consigo evitar sorrir ao sentir o odor a Hugo Boss. Lembro-me do teu olhar no balcão do bar a não se desviar do meu quando se encontraram. Mesmo depois de eu ter voltado a olhar para ti mais três vezes para ter a certeza que não estava a fazer filmes. Sabes, sou perita nisso. Quando notei o teu sorriso discreto e me apercebi que era real, corei. Não me lembrava da última vez que um homem tinha olhado para mim como mulher. Fizeste-me sentir desejada. As minhas amigas repararam que eu não estava com a atenção nelas e nas suas fofoquices, seguiram o meu olhar e, assim que te viram a sorrir para mim, gritaram como só as mulheres o sabem fazer. Não me fez desviar o olhar. Senti-me ainda melhor quando me apercebi que elas também te desejavam mas, ainda assim, foi a mim que escolheste. Não era a mais bonita do grupo, nem a mais magra e muito menos a mais arranjada. Mas foi o meu olhar que encontraste. Não me lembro da última vez que me tinham escolhido em vez das minhas amigas. Já andava pelo paraíso das solteiras (ou encalhadas como diz a minha melhor amiga) há tanto tempo, que dei por mim a acomodar-me. Ainda bem que o teu olhar me libertou. Quase inconscientemente, e a continuar sem desviar o olhar, levantei-me dos sofás e sentei-me no banco ao teu lado. Whiskey duplo sem gelo, respondi à tua pergunta. Pela tua cara, percebi que estavas à espera que eu respondesse que queria uma água ou um Cosmo. Não sei se ficaste impressionado ou assustado. Senti-me poderosa. Nem dei pelo passar do tempo até o barman anunciar a “last call”, a última rodada da noite. Sem perder tempo, pedi dois shots de Tequilla para nós e, de seguida, seguiram mais dois. Olhei para trás e não encontrei nenhuma das minhas amigas. Aliás, sem sermos nós, no bar só havia um grupo de meia dúzia de mulheres felizes e embriagadas numa despedida de solteira e mais alguns homens de meia idade já sem se conseguirem levantar dos bancos de tal bebedeira. Tínhamos passado quase três horas a conversar e foram as três melhores horas que tive em muitos meses. Perguntaste-me como é que eu ia para casa e descobrimos que íamos de uber para a mesma zona da cidade. Claro que sugeriste partilharmos a boleia. Não me deixaste pagar as bebidas mas eu insisti em pagar o uber. Àquela hora já não havia carros disponíveis perto do bar e tivemos de esperar que viesse um do outro lado da cidade. Entre tanta bebida e os saltos altos, acabei por tropeçar na calçada e cair para cima de ti. Não me deixaste cair. Pegaste em mim como os príncipes da Disney pegam nas suas princesas. Claro que para quem estava a passar e viu não foi assim tão romântico, mas na minha cabeça foi. Cheguei a duvidar se era real ou se já estava a sonhar. Este foi o primeiro sinal. Ao fim de quatro ou cinco segundos a olhares para mim, nos teus braços, beijaste-me. E este foi o segundo. Tinha fantasiado com este momento desde a primeira vez que olhaste para mim. As minhas mãos abraçaram o teu pescoço como se fosses meu. Na realidade, considerei-te meu naquela noite. Não me lembro de chegar a casa, talvez porque os teus beijos não me deixam lembrar de mais nada. O uber parou na minha casa primeiro e convidei-te a subir. E tu subiste. Quatro andares sem elevador depois, estávamos à minha porta, ligeiramente mais sóbrios. Ainda bem que vivo sozinha porque não chegámos até ao quarto. Foi uma noite incrível, selvagem mas descontraída. Na sala, na cozinha, na casade banho. Uma noite como nunca tinha tido. Senti-me mulher, desejada, uma musa. Nunca ninguém me tinha feito sentir assim. Tenho o telemóvel cheio de mensagens das minhas amigas e nem sei o que lhes responder. Ainda tenho o teu cheiro na minha almofada. Beijaste-me carinhosamente hoje de manhã, ainda com o teu cabelo meio despenteado, trocámos números de telefone e vamos jantar fora logo à noite. 
E eu nem gosto de whiskey.