“ 22 De Julho de 1997
Minha Querida Chaterine,
Sinto
a tua falta, meu amor, como sempre, mas hoje é particularmente difícil
porque o oceano tem estado a cantar para mim, e a canção é a da nossa
vida juntos. Quase que consigo sentir-te a meu lado enquanto escrevo
esta carta, e consigo cheirar o aroma de flores silvestres que me faz
sempre lembrar de ti. Mas neste momento, essas coisas não me dão
qualquer prazer. As tuas visitas têm sido menos frequentes, e por vezes
sinto como se a maior parte do que sou estivesse lentamente a
dissipar-se.
Estou
a tentar, ainda assim. À noite quando estou sozinho, chamo por ti, e
sempre que a minha dor parece ser maior, encontras constantemente
maneira de voltar para mim. Ontem à noite, nos meus sonhos, vi-te no
pontão perto de Wrightsville Beach. O vento soprava através do teu
cabelo e os teus olhos retinham a luz pálida do Sol que se desvanecia.
Fico espantado quando te vejo encostado ao parapeito. Tu és bela, penso
enquanto te vejo, uma visão que nunca consigo encontrar em mais ninguém.
Começo a andar lentamente na tua direcção e quando, finalmente, te
voltas para mim, reparo que outros têm estado a observar-te também.
«Conhece-la?» perguntam-me em sussurros invejosos, e enquanto sorris
para mim, respondo simplesmente com a verdade. «Melhor do que o meu
próprio coração.»
Paro
quando chego perto de ti e envolvo-te nos meus braços. Anseio por esse
momento mais do que qualquer outro. É a razão da minha vida, e quando tu
retribuis o meu abraço, eu entrego-me a esse momento, em paz mais uma
vez.
Levanto a
mão e toco suavemente na tua face e tu inclinas a cabeça e fechas os
olhos. As minhas mãos são ásperas e a tua pele é macia, e interrogo-me
durante um momento se vais afastar-te, mas claro que não o fazes. Nunca o
fizeste, e é em alturas como esta que eu sei qual é o meu objectivo na
vida.
Estou aqui
para te amar, para te segurar nos meus braços, para te proteger. Estou
aqui para aprender contigo e para receber o teu amor em troca. Estou
aqui porque não existe outro sítio onde possa estar.
Mas
depois, como sempre, a neblina começa a formar-se enquanto permanecemos
juntos um ao outro. É um nevoeiro distante que nasce do horizonte, e
descubro que começo a ficar com medo à medida que ele se aproxima. Ele
insinua-se lentamente, envolvendo o mundo à nossa volta, cercando-nos
como que para evitar que fujamos. Como uma nuvem rolante, cobre tudo,
fechando, até mais nada restar senão nós os dois.
Sinto
a minha garganta a começar a fechar e os meus olhos a encherem-se de
lágrimas porque sei que são horas de partires. O olhar que me lanças
naquele momento persegue-me. Sinto a tua tristeza e a minha própria
solidão, e a dor no meu coração, que permanecera silenciosa só por um
pequeno intervalo de tempo, torna-se mais forte quando tu me soltas. E
então estendes os braços e dás uns passos para trás, desaparecendo no
nevoeiro porque ele é o teu lugar e não o meu. Anseio por ir contigo,
mas a tua única resposta é abanares a cabeça porque ambos sabemos que é
impossível.
E eu
assisto com o coração a partir-se enquanto desapareces lentamente. Dou
comigo a esforçar-me por lembrar tudo acerca daquele momento, tudo
acerca de ti. Mas depressa, sempre demasiado depressa, a tua imagem
desaparece e o nevoeiro recua para o seu lugar longínquo e eu fico
sozinho no pontão e não me importo com o que os outros pensam quando
baixo a cabeça e choro e choro e choro.
Garrett”
